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Como a microbiota intestinal conversa com o cérebro

Como a microbiota intestinal conversa com o cérebro

Nos últimos anos, a ciência tem revelado um dos relacionamentos mais fascinantes do corpo humano: a conexão direta entre o intestino e o cérebro. O que antes era visto apenas como um órgão digestivo hoje é reconhecido como um verdadeiro “segundo cérebro”, capaz de influenciar o humor, o comportamento, o sistema imunológico e até mesmo o desenvolvimento de doenças neurológicas. Essa comunicação ocorre graças à microbiota intestinal, um ecossistema composto por trilhões de micro-organismos que habitam o trato gastrointestinal.

Mas como, exatamente, esses microrganismos conseguem “conversar” com o cérebro? E por que essa interação é tão importante para a saúde física e mental? Vamos explorar essa conexão surpreendente, conhecida como eixo intestino-cérebro, e entender como ela impacta nosso bem-estar.

O que é a microbiota intestinal

A microbiota intestinal é o conjunto de bactérias, vírus, fungos e outros micro-organismos que vivem no intestino. Estima-se que existam trilhões de microrganismos, formando um ecossistema complexo e diversificado. Longe de serem apenas “bactérias”, esses organismos desempenham funções essenciais:

  • Digestão de alimentos e produção de nutrientes, como vitaminas do complexo B e vitamina K;

  • Fermentação de fibras, gerando ácidos graxos de cadeia curta (como butirato e propionato), fundamentais para a saúde intestinal e metabólica;

  • Fortalecimento do sistema imunológico, atuando como barreira contra patógenos;

  • Produção de neurotransmissores, como serotonina e dopamina, que afetam diretamente o humor e o comportamento.

Cada pessoa possui uma microbiota única, moldada por fatores como genética, tipo de parto (normal ou cesariana), alimentação, uso de antibióticos, ambiente e estilo de vida.

O eixo intestino-cérebro: uma via de mão dupla

A comunicação entre intestino e cérebro ocorre por meio de uma rede complexa chamada eixo intestino-cérebro. Essa ligação funciona em mão dupla, ou seja, o intestino influencia o cérebro e o cérebro influencia o intestino. Três principais canais de comunicação participam dessa interação:

  1. Nervo vago: é a “estrada principal” que conecta o intestino ao cérebro. Esse nervo envia sinais elétricos e químicos que informam o cérebro sobre o estado do sistema digestivo, como sensação de saciedade, dor ou inflamação.

  2. Sistema imunológico: a microbiota ajuda a regular a resposta imunológica. Alterações no intestino podem liberar substâncias inflamatórias que afetam o funcionamento cerebral.

  3. Metabólitos e neurotransmissores: as bactérias intestinais produzem substâncias que atravessam a barreira hematoencefálica e influenciam diretamente os neurônios. Entre elas estão os ácidos graxos de cadeia curta e neurotransmissores como serotonina, dopamina, GABA e glutamato.

Essa comunicação constante garante que cérebro e intestino trabalhem em harmonia para regular funções essenciais, como o apetite, a digestão, o sono e o equilíbrio emocional.

A influência da microbiota no humor e nas emoções

Um dos aspectos mais surpreendentes dessa interação é a relação entre a microbiota intestinal e a saúde mental. Pesquisas indicam que cerca de 90% da serotonina, neurotransmissor ligado à sensação de bem-estar e felicidade, é produzida no intestino.

Quando a microbiota está equilibrada, ela favorece a produção adequada de serotonina e outros neurotransmissores que contribuem para o bom humor, a regulação do sono e a redução da ansiedade. Por outro lado, um desequilíbrio da microbiota – conhecido como disbiose – pode levar a inflamações e alterações químicas que aumentam o risco de distúrbios como:

  • Ansiedade e depressão;

  • Síndrome do intestino irritável;

  • Transtornos do sono;

  • Alterações de apetite e compulsão alimentar.

Estudos em animais demonstraram que transplantes de microbiota de indivíduos deprimidos para ratos podem induzir comportamentos semelhantes à depressão nos animais. Em humanos, pesquisas mostram que dietas ricas em fibras e alimentos fermentados, que nutrem as boas bactérias, estão associadas a uma melhor saúde mental.

Impacto no sistema imunológico e nas doenças neurológicas

A microbiota intestinal também desempenha um papel importante na regulação do sistema imunológico. Um intestino saudável impede que substâncias inflamatórias entrem na corrente sanguínea e cheguem ao cérebro. Quando a barreira intestinal é comprometida – uma condição conhecida como intestino permeável – toxinas e bactérias podem gerar inflamações que afetam o sistema nervoso central.

Essa inflamação crônica tem sido associada a doenças neurológicas como:

  • Doença de Alzheimer: alterações na microbiota podem favorecer processos inflamatórios ligados à degeneração cerebral.

  • Doença de Parkinson: pesquisadores observaram que sintomas gastrointestinais, como constipação, podem anteceder os sinais motores da doença, indicando que mudanças na microbiota podem ter papel no desenvolvimento do distúrbio.

  • Esclerose múltipla: evidências sugerem que um desequilíbrio bacteriano pode contribuir para a resposta autoimune que caracteriza a doença.

Esses achados reforçam que cuidar da saúde intestinal vai muito além da digestão: é uma estratégia de prevenção para todo o corpo, incluindo o cérebro.

O papel da alimentação na saúde do eixo intestino-cérebro

A dieta é um dos fatores mais poderosos para manter a microbiota intestinal equilibrada. O que você come alimenta não apenas você, mas também as trilhões de bactérias que vivem em seu intestino. Para favorecer as bactérias benéficas, recomenda-se:

  • Fibras prebióticas: presentes em frutas, verduras, legumes, aveia, alho, cebola e banana, as fibras servem de “alimento” para as boas bactérias.

  • Alimentos fermentados: iogurte natural, kefir, kombucha, chucrute e miso contêm probióticos que ajudam a repovoar a microbiota.

  • Polifenóis: compostos antioxidantes encontrados em frutas vermelhas, chá verde, cacau e azeite de oliva, que fortalecem as boas bactérias.

  • Redução de ultraprocessados: alimentos ricos em açúcar, gordura saturada e aditivos químicos prejudicam a diversidade da microbiota e favorecem a inflamação.

Uma dieta variada, rica em vegetais e alimentos naturais, é a chave para manter um ecossistema intestinal saudável e, consequentemente, um cérebro mais equilibrado.

Estilo de vida e equilíbrio intestinal

Além da alimentação, outros hábitos influenciam a microbiota e, por consequência, a comunicação com o cérebro:

  • Sono adequado: noites bem dormidas regulam os hormônios do apetite e a saúde intestinal.

  • Atividade física: exercícios regulares aumentam a diversidade bacteriana e reduzem a inflamação.

  • Gerenciamento do estresse: o estresse crônico afeta a microbiota e pode causar desconfortos como diarreia, constipação ou síndrome do intestino irritável. Técnicas de relaxamento, meditação e respiração profunda são aliados poderosos.

  • Uso consciente de antibióticos: medicamentos antibacterianos, embora necessários em alguns casos, podem destruir bactérias benéficas. Seu uso deve ser sempre orientado por um médico.

Como fortalecer essa conexão para melhorar a saúde mental

Compreender que o intestino influencia diretamente o cérebro abre novas possibilidades de prevenção e tratamento de transtornos mentais. Intervenções focadas na microbiota – como dietas específicas, probióticos e prebióticos – já mostram resultados promissores em estudos clínicos para ansiedade, depressão e estresse.

Práticas simples, como incluir mais alimentos fermentados na dieta, reduzir o consumo de açúcar e priorizar refeições ricas em fibras, podem melhorar o equilíbrio intestinal em poucas semanas. Além disso, cuidar da mente, seja por meio de terapia, exercícios físicos ou meditação, também beneficia o intestino, reforçando a natureza bidirecional dessa comunicação.

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